quarta-feira, 4 de março de 2009

InSuRto


"Ela pediu mais uma xícara de café [a terceira naquela noite] enquanto esperava que aquele sentimento passasse. Era uma coisa estranha, um medo bobo de voltar pra casa, de se olhar no espelho, de se ver sozinha. Não - de se perceber sozinha.
Tamborilou os dedos sob a mesa, os da mão esquerda; a colherinha tilitou no pires branco com uma flor cor de goiaba desenhado. Fingia estar desinteressada no mundo à sua volta: nas pessoas, no clima, no lugar, nas horas passando...
Quanto tempo havia? Será que já havia passado? Será que já era hora de voltar?
Olhou o fundo da xícara. Já era a terceira, pensou. E se ela pedisse mais uma? Seria conveniente, reconfortante até certo ponto, mas não seria prudente.
Fugir assim... onde já se viu?
E que horas eram aquelas? Por que parecia que já fazia um ano se ela só estivera ali por 3 horas?
Se viu diante da quarta xícara, o café rodopiando no fundo, a colher também a girar, involuntariamente; como seus pensamentos. e como o seu medo de ser sozinha aquela noite, pelo resto da sua vida.
De fato as noites se multiplicam, se repetem e são irremediavelmente irreversíveis.
Como tudo que é um engano."


Pare de pensar, pare de sentir, pare de sonhar, pare de ser assim...
Ser você é um câncer. Eu sou esse câncer.
Você não é nada.
Só um nó que eu não consigo desatar.

[...]

2 comentários:

Aline Shinoda disse...

Me sinto essa garota do seu texto, tamborilando os dedos n mesa, me entupindo de café, e com medo de se olhar no espelho e se descobrir novamente sozinha.
Aliás, descobri que a saída é não se olhar no espelho.
Eu também sou esse câncer...

Shagaly disse...

Esse texto me causa um aflição grande, como se eu me reportasse a essa situação. Odeio me sentir assim ,sozinha, sempre à espera de alguma coisa...