Ele não sabe. Nem sonha em saber. Eu não contei pra ele.
Perco o chão toda vez que ele está por perto, só de sentir o seu cheiro, de ouvir sua voz, vê-lo de longe...
Me dá arrepio quando vem em minha direção, e fala comigo, aperta minha mão, me beija no rosto. Frio na barriga. Pânico. E ainda não sei como ele não sabe...
Se sorri, desoriento; se fala sério, passando a mão pela cabeça, fico ansiosa.
Me perco, todos os sentidos voltados pra ele, pra onde ele está. E ele não sabe! Nem desconfia!
Como pode?
Ou é distraído, ou muito bobo pra não saber. Bobo eu sei que não, mas essa distração me causa arritmia.
Quando dança, ou cantarola qualquer canção, quando faz aquela cara engraçada... não é possível, só pode ser pra me provocar.
E tantas horas... quantas horas eu perco vigiando seus passos? Quantas eu ganho vendo seus olhos brilharem? Duas amêndoas doces...
Mas ele não sabe, nem sonha em saber. Não sabe.
E eu, talvez por burrice, talvez por egoísmo, talvez apenas por insegurança, não ouso contar-lhe.
Um dia eu digo, um dia eu conto.
Agora me falta a luz.