domingo, 13 de novembro de 2016

Caixas, cobertores, xícaras.

Juntando os caquinhos do que restou de emocional em mim, visito cantos do meu quarto e da alma que abandonei ao relento e à poeira do tempo. A não metafórica. Tudo que toco nesse meu quarto me faz espirrar; o que toco na alma me faz chorar. Mas é um choro silencioso, contido, desses que você segura até doer a garganta, por não achar necessário ou por achar que é fraqueza.
No final acaba sendo tudo a mesma coisa: desnecessidade e fraqueza.
As coisas materiais com as quais não consegui lidar se acumularam em caixas de papelão, um punhado de memórias, momentos, encontros, términos, uma vida amontoada e desorganizada. Foi isso o que me tornei: acumuladora de caixas. Maior ainda é a bagunça na alma, os sentimentos desordenados, confusos, frágeis, deletérios...
Hoje em minha alma, existe um frio que de tanta dor que causa me faz querer chorar o tempo inteiro.
Espero pelo passar do frio, envolta num cobertor macio e acolhedor. No silêncio que me vejo imersa, enquanto aqueço o frio da alma, percebo que a cada gole de café da minha xícara de coruja eu preencho pequenos buracos deixados por sentimentos não correspondidos. Pelo deixar-se magoar, pelo desprezo despretensioso, pelo orgulho das pessoas amadas. Por tudo. Por mim. 
Porque eu não sou capaz de perceber a desumanidade das pessoas que eu permiti o encontro de jornada. Porque não compreendo que esse controle de quem chega, quem sai, quem fica, quem vai, quem leva e quem trás, não me compete. Porque eu não enxergo o que é melhor pra mim, que quem delimita essa importância não sou eu, e o que me cabe é me refazer quando o melhor é ser destruída e reduzida a pouco menos que um átomo. 
E não é estranho que até os átomos são importantes pra tudo que existe? Que eles são partes fundamentais sem os quais o todo de qualquer coisa no Universo não existiria?
Quantos buracos negros abertos em mim cada gole de café na minha xícara de coruja  irá conseguir preencher?
Por quê eu não sou capaz de me importar menos? 

Por quê? 


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