quinta-feira, 21 de julho de 2016

Jovem Velha

"Garotinha".
Eu odiava esse apelido. Odiava. Achava retardado, pejorativo, imbecil.
Me sentia rebaixada, sei lá, mais inferior do que eu já me sentia e era. 'Coisa de ensino médio', era mais fácil pensar assim e aceitar. Aceitei.
Com o passar do tempo, e muitos outros apelidos depois, sempre que ouço alguém me chamar de "garotinha" sinto um abraço afetivo, carinhoso, sincero.
Poucas pessoas me chamam assim hoje em dia, são raras e especiais, e sempre que o fazem ressaltam no jeito e no tom da voz que eu sou especial, não sou 'só mais uma little girl'.
Então tá mais que tarimbado, registrado, carimbado em minha alma: Garotinha.
Durante essa conclusão, eu recordei e senti saudade de uma garotinha insegura e destemida de alguns anos atrás. 

Daquela que não dançou a valsa dos 15 anos, que não teve festa de formatura do ensino médio, que pediu um violão à mãe de presente, que colecionava fitas k7 e revistas de música além dos papéis de carta e postais, que tinha RG falsificado pra poder ir ao cinema assistir filmes +18, que amava o pátio do Instituto Goethe, que tinha preguiça de alisar os cabelos, que já tinha lido todos os livros que o professor do 3º ano indicou pro vestibular muito antes da obrigação do vestibular... Que usava sempre um all star velho e sujo, que sempre trocava o caderno de cor, que não tinha medo de tomar chuva, que usava a calça mais larga e sem cinto, que tinha a camisa do colégio grafitada, que não admitia tortura medieval (vulgo depilação), que usava uma velha touca de crochê pra esconder os cabelos não penteados, que tinha coleção de brincos de miçanga, pulseira de linha... e que não gostava do apelido que as amigas colocaram, por não gostar do motivo do apelido.
Nossa, que saudades dela! 

Parece até que era outra pessoa, mas era eu, sou eu, essa garotinha que cresceu e que perdeu um pouco da leveza e do andar despreocupado em direção ao futuro, ou a lugar nenhum.
Tenho saudades, e às vezes me encontro com ela em segredo, mesmo quando todo mundo sabe que é ela e não eu. Essa "eu" de 30 anos que ainda atende pela alcunha de "Garotinha".

Nenhum comentário: